Muito mais do que um simples massagista
O enfermeiro e massagista Guilherme Luís, um dos maiores símbolos da Académica desde os anos 50, faleceu hoje de madrugada, com 79 anos, encontrando-se o seu corpo em câmara ardente no Pavilhão Jorge Anjinho.
"É uma perda de um símbolo da Académica no âmbito dos cuidados clínicos. Estava sempre pronto a ajudar e foi sempre de enorme dedicação à instituição”, disse hoje à Agência Lusa o médico do clube Augusto Roxo.
O antigo presidente da Académica, Campos Coroa, define-o como "sempre leal e muito trabalhador", enquanto o actual presidente, José Eduardo Simões, apresentou-o como "um exemplo de amor à Académica e a Coimbra".
Nascido em 1930, Guilherme Luís já era massagista da "Briosa" desde 1950, por diligência de António Pita, chefe da Enfermaria de um dos serviços de Medicina dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Esteve ao serviço dos "estudantes" até 1978, altura em que o Académico de Viseu o recrutou por apenas dois anos, tendo regressado novamente a Coimbra.
Trabalhou ao lado do médico Francisco Soares, desde 1958, altura em que pela primeira vez um clínico se sentou nos bancos da equipa. Conheceu o presidente João Moreno e trabalhou ao lado de treinadores famosos como Cândido de Oliveira e João Alves, entre outros.
Além de enfermeiro, tirou o curso de Massagista, dando formação nessa área. Foi colaborador da selecção nacional de futebol durante algum tempo e, em Abril de 2007, foi condecorado com a Ordem de Mérito Desportivo pelo Secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias.
Desligou-se da actividade regular do clube há apenas três anos, mas esteve a trabalhar no Pavilhão Jorge Anjinho até ao passado mês de Junho. "Vou andar por aqui até deixar de poder", referiu Guilherme Luís em 2007, na última homenagem pública, em Lisboa.
"É uma perda de um símbolo da Académica no âmbito dos cuidados clínicos. Estava sempre pronto a ajudar e foi sempre de enorme dedicação à instituição”, disse hoje à Agência Lusa o médico do clube Augusto Roxo.
O antigo presidente da Académica, Campos Coroa, define-o como "sempre leal e muito trabalhador", enquanto o actual presidente, José Eduardo Simões, apresentou-o como "um exemplo de amor à Académica e a Coimbra".
Nascido em 1930, Guilherme Luís já era massagista da "Briosa" desde 1950, por diligência de António Pita, chefe da Enfermaria de um dos serviços de Medicina dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Esteve ao serviço dos "estudantes" até 1978, altura em que o Académico de Viseu o recrutou por apenas dois anos, tendo regressado novamente a Coimbra.
Trabalhou ao lado do médico Francisco Soares, desde 1958, altura em que pela primeira vez um clínico se sentou nos bancos da equipa. Conheceu o presidente João Moreno e trabalhou ao lado de treinadores famosos como Cândido de Oliveira e João Alves, entre outros.
Além de enfermeiro, tirou o curso de Massagista, dando formação nessa área. Foi colaborador da selecção nacional de futebol durante algum tempo e, em Abril de 2007, foi condecorado com a Ordem de Mérito Desportivo pelo Secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias.
Desligou-se da actividade regular do clube há apenas três anos, mas esteve a trabalhar no Pavilhão Jorge Anjinho até ao passado mês de Junho. "Vou andar por aqui até deixar de poder", referiu Guilherme Luís em 2007, na última homenagem pública, em Lisboa.
Guilherme Luís faleceu ontem, aos 79 anos. O famoso “Pilinhas”
desapareceu sem avisar os amigos. A Académica está de luto
desapareceu sem avisar os amigos. A Académica está de luto
Foi uma ligação de perto de meio século, interrompida apenas por dois anos (quando esteve ao serviço do Académico de Viseu), quase sempre ao serviço da equipa sénior, fazendo verdadeiras parelhas com Francisco Soares (já falecido) e mais recentemente com José Barros (actual responsável pelo Departamento Médico da Briosa), com o qual fazia verdadeiras provas de 100 metros na hora de assistir a um jogador estudantil.
Foram inúmeros os treinadores (Cândido de Oliveira, Mário Wilson e João Alves são alguns dos exemplos), jogadores e dirigentes com os quais privou, mas todos foram conquistados pela sua simplicidade, humildade, dedicação e profissionalismo.
Com contrato vitalício desde Maio de 2000, por decisão da direcção liderada por Campos Coroa, apenas em 2006 se afastou um pouco da actividade que diariamente exercia junto da equipa sénior, embora se tenha mantido em funções no Pavilhão Eng. Jorge Anjinho. A 21 de Abril de 2007 foi alvo de uma justa homenagem por parte do Clube da Comunicação Social de Coimbra, que juntou no relvado e à mesa glórias de Académica e União de Coimbra, sendo, igualmente, por essa altura, condecorado com a Ordem de Mérito Desportivo pelo secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias.
A sua grandeza também se mede por isto. Desde ontem à tarde que o seu corpo se encontra em câmara ardente no Pavilhão Eng. Jorge Anjinho, honra que apenas é concedida a antigos presidentes, mas também a figuras míticas, como foi o caso do médico Francisco Soares ou de Vasco Gervásio.
O funeral realiza-se hoje, pelas 15h00, do pavilhão em direcção ao cemitério Oriental da Figueira da Foz, onde o corpo de Guilherme Luís irá ser cremado.
O nosso Jornal apresenta as mais sentidas condolências à família de Guilherme Luís.
Reacções
“Uma figura querida da nossa Académica”
Não foi apenas um massagista da Académica durante quase 40 anos. Era um grande profissional, um homem humilde, pessoa de uma grande afabilidade e simpatia. Era uma pessoa que tinha um humor que só quem o conhecia de perto faria apreciar e era também alguém com quem era muito fácil e agradável conviver. Era tudo menos um simples massagista. Com o desaparecimento dele é também uma parte da minha juventude que se vai embora. Julgo que isso é comum a todos que enquanto atletas, seccionistas, treinadores, colegas, funcionários, médicos, companheiros de trabalho ou do desporto privaram com ele. É uma parte muito bonita das nossas vidas que desaparece.
A sua dedicação e amor pela Académica fazia com que nós fôssemos uma extensão da família. É por isso que mais como presidente é como pessoa que me sinto mais triste por ver desaparecer esta figura tão querida na nossa Académica».
Não foi apenas um massagista da Académica durante quase 40 anos. Era um grande profissional, um homem humilde, pessoa de uma grande afabilidade e simpatia. Era uma pessoa que tinha um humor que só quem o conhecia de perto faria apreciar e era também alguém com quem era muito fácil e agradável conviver. Era tudo menos um simples massagista. Com o desaparecimento dele é também uma parte da minha juventude que se vai embora. Julgo que isso é comum a todos que enquanto atletas, seccionistas, treinadores, colegas, funcionários, médicos, companheiros de trabalho ou do desporto privaram com ele. É uma parte muito bonita das nossas vidas que desaparece.
A sua dedicação e amor pela Académica fazia com que nós fôssemos uma extensão da família. É por isso que mais como presidente é como pessoa que me sinto mais triste por ver desaparecer esta figura tão querida na nossa Académica».
José Eduardo Simões
“É uma perda grande para a Académica”
É uma figura e um homem cuja vida esteve sempre ligada à Académica. É uma perda grande para o AAC/OAF. Enquanto presidente, em Maio de 2000, por aquilo que ele fez ao longo da vida, pela sua dedicação, por estar sempre presente, por ter acompanhado gerações e gerações e por ser a pessoa que era - um homem bom - nessa conformidade, a minha direcção entendeu celebrar com ele um contrato vitalício. E só se faz isso a alguém que é muito especial e que muito deu à Académica.
Assim como tentei perpetuar a memória do Dr. Francisco Soares, devia fazer-se o mesmo com o Guilherme Luís. Faziam uma dupla extraordinária».
Campos Coroa
“A memória dele devia ficar perpetuada”
É a perda de um grande amigo e de um grande académico. Pôs acima de tudo uma causa que foi a instituição, que serviu com grande rigor e profissionalismo. Era um apaixonado. É um dia muito triste para a nossa Académica. Ele encarna a mística da Académica. Quero recordar-me sempre do grande Pilinhas. A memória dele devia ficar perpetuada para que os vindouros a recordem sempre. Às vezes devido ao seu feitio não era fácil, mas quem o sabia levar conseguia tudo dele. Era um homem disponível para todos. Não só para os profissionais. Tratou de toda a gente da região. O país desportivo ficou mais pobre».
É uma figura e um homem cuja vida esteve sempre ligada à Académica. É uma perda grande para o AAC/OAF. Enquanto presidente, em Maio de 2000, por aquilo que ele fez ao longo da vida, pela sua dedicação, por estar sempre presente, por ter acompanhado gerações e gerações e por ser a pessoa que era - um homem bom - nessa conformidade, a minha direcção entendeu celebrar com ele um contrato vitalício. E só se faz isso a alguém que é muito especial e que muito deu à Académica.
Assim como tentei perpetuar a memória do Dr. Francisco Soares, devia fazer-se o mesmo com o Guilherme Luís. Faziam uma dupla extraordinária».
Campos Coroa
“A memória dele devia ficar perpetuada”
É a perda de um grande amigo e de um grande académico. Pôs acima de tudo uma causa que foi a instituição, que serviu com grande rigor e profissionalismo. Era um apaixonado. É um dia muito triste para a nossa Académica. Ele encarna a mística da Académica. Quero recordar-me sempre do grande Pilinhas. A memória dele devia ficar perpetuada para que os vindouros a recordem sempre. Às vezes devido ao seu feitio não era fácil, mas quem o sabia levar conseguia tudo dele. Era um homem disponível para todos. Não só para os profissionais. Tratou de toda a gente da região. O país desportivo ficou mais pobre».
Vítor Manuel
“Dedicou a vida à Académica”
Guilherme Luís dedicou a sua vida à Académica. Era um homem bom, sabedor, um excelente profissional, que deixa saudades e um grande espírito académico em todos nós. Tive uma enorme felicidade em trabalhar com ele e tivemos alguns episódios interessantes. Por exemplo, num jogo no Calhabé estávamos os dois a entrar dentro de campo para assistir um jogador e, como estávamos a ganhar, íamos devagar… Mas depois disse-lhe: “Vou meter o turbo” e arranquei… O Guilherme ao tentar acompanhar-me acabou por escorregar e cair e todo o estádio achou imensa piada à situação».
Guilherme Luís dedicou a sua vida à Académica. Era um homem bom, sabedor, um excelente profissional, que deixa saudades e um grande espírito académico em todos nós. Tive uma enorme felicidade em trabalhar com ele e tivemos alguns episódios interessantes. Por exemplo, num jogo no Calhabé estávamos os dois a entrar dentro de campo para assistir um jogador e, como estávamos a ganhar, íamos devagar… Mas depois disse-lhe: “Vou meter o turbo” e arranquei… O Guilherme ao tentar acompanhar-me acabou por escorregar e cair e todo o estádio achou imensa piada à situação».
José Barros
Até que as mãos lhe doam…
A 26 de Fevereiro de 1956, a Briosa recebe o Benfica. A época não está a correr bem aos estudantes, que aliás terminarão no penúltimo lugar. Numa disputa de bola, um jogador da Académica choca com um adversário. Estatelam-se ambos. Os massagistas das duas equipas correm para o relvado. O do clube da Luz, devido ao seu enorme porte, tem a alcunha de “Mão de Pilão”. Mas o de Coimbra, o “baixote” Guilherme Luís, chega primeiro junto dos atletas caídos. Da bancada, solta-se a voz do médico Ângelo Mota: “Olha, o ‘Mão de Pilinha’ ganhou ao ‘Mão de Pilão’!…”. O dito transforma-se rapidamente em alcunha, mais tarde simplificada. Nos meios académicos, eufóricos com a vitória sobre os benfiquistas por 1-0, Guilherme passa a ser, simplesmente, “ O Pilinha”.
Até que as mãos lhe doam…
A 26 de Fevereiro de 1956, a Briosa recebe o Benfica. A época não está a correr bem aos estudantes, que aliás terminarão no penúltimo lugar. Numa disputa de bola, um jogador da Académica choca com um adversário. Estatelam-se ambos. Os massagistas das duas equipas correm para o relvado. O do clube da Luz, devido ao seu enorme porte, tem a alcunha de “Mão de Pilão”. Mas o de Coimbra, o “baixote” Guilherme Luís, chega primeiro junto dos atletas caídos. Da bancada, solta-se a voz do médico Ângelo Mota: “Olha, o ‘Mão de Pilinha’ ganhou ao ‘Mão de Pilão’!…”. O dito transforma-se rapidamente em alcunha, mais tarde simplificada. Nos meios académicos, eufóricos com a vitória sobre os benfiquistas por 1-0, Guilherme passa a ser, simplesmente, “ O Pilinha”.
Então, Guilherme da Cunha Luís, nascido em Coimbra em Abril de 1930, já é massagista da Briosa há quase seis anos. Iniciara-se no princípio de Maio de 1950, por diligência de António Pita, responsável máximo pela enfermaria de um dos serviços de Medicina do Hospital da Universidade e, também, enfermeiro-chefe da Académica, onde tem Gilberto Pedrosa como auxiliar.
Guilherme, que está a ano e meio de concluir o curso de enfermagem, começa por se sentar no banco de um jogo a contar para o regional de juniores. Duas semanas depois, é escalado para um Académica-União, em reservas. O desafio é na Arregaça e, mal entra em campo, o novo massagista dos estudantes leva uma bofetada de um adepto do clube da casa, que lhe faz ir a maleta pelos ares.
Nessa altura, a Académica não tem propriamente um médico. Guilherme de Oliveira encarrega-se das inspecções aos jogadores. Dentro de campo, quando alguém se magoa, é o atleta Joaquim Branco, já licenciado em Medicina, quem dá uma ajudinha. Quando Azeredo se forma, passa a ser este o requisitado. Só com Francisco Soares, já com Cândido de Oliveira como treinador, a Briosa passa a ter um clínico no banco. E, em 58, o departamento é reforçado com a entrada de um segundo enfermeiro, António Pascoal, que se manterá na Académica 14 anos a fio. Pascoal, Guilherme Luís e Francisco Soares estarão, de resto, entre os fundadores do Centro de Medicina, que funcionará na sede da Associação Académica, a partir de 20 de Outubro de 1965. Ubach Ferrão é o director. Mário Torres, outro dos médicos.
A 2 de Janeiro de 78, Guilherme interrompe uma ligação à Briosa, que então já dura há quase três décadas. O Académico de Viseu, como a direcção dos estudantes confirma através da instalação sonora do Calhabé, apresentara-lhe uma proposta irrecusável. Ao entrar em campo, o público que se prepara para assistir ao Académico-Braga despede-se com uma enorme salva de palmas, a que se associam jogadores e dirigentes. Guilherme, no seu jeito humilde de sempre, agradece, comovido. Tem, então, três filhas — por sinal, todas de nome Ana. A segunda, Ana Cristina, casar-se-á com um jogador dos estudantes: o brasileiro Eldon. Dará ao pai dois dos seus quatro netos.
Guilherme Luís não se demora muito em Viseu. No último dia de Maio de 1980, está de regresso a Coimbra. Quando chega a casa, tem dois homens à espera: João Moreno, presidente do Académico coimbrão, e Manuel de Oliveira, outro dirigente do clube. É sem dificuldade que o convencem a voltar à turma estudantil, onde depois terá a companhia do enfermeiro Vítor Guimarães— outro caso de dedicação ao emblema.
Em 89, durante um jantar no Casino da Figueira, está Guilherme a ser agraciado com o “prémio Briosa”. No ano seguinte completam-se quatro décadas sobre a sua entrada em funções na Académica e o massagista é uma das figuras mais aplaudidas da noite.
Dez anos depois, a 10 de Maio de 2000, a direcção presidida por Campos Coroa celebra com Guilherme Luís um contrato vitalício. Na altura, Coroa define-o como “sempre leal e muito trabalhador”. Francisco Soares — chefe do departamento médico, é o mais emocionado: “Homens destes não aparecem todos os dias. Ele (Guilherme) há-de continuar a vir trabalhar, nem que seja de muletas”.
Em Maio de 2002, quando a Académica celebra o regresso à 1.a divisão com João Alves, Guilherme Luís volta a ser homenageado. Agora, pela Casa da Académica em Lisboa. “(Ele) era o nosso confessor, a pessoa em que confiávamos e a quem contávamos os nossos pecados”, recorda então o ex-jogador José Belo, dirigente da Casa. Casa que edita um jornal, denominado “Tertúlia Académica”. É a este que Guilherme garante, por ocasião da homenagem lisboeta: “Vou andar por aqui até deixar de poder!”.
Tem cumprido. Em Abril de 2007, por ocasião da mais recente homenagem pública que lhe foi prestada, o presidente da Briosa, José Eduardo Simões, apresenta-o como “um exemplo de amor à Académica e a Coimbra”. Guilherme está com 77 anos e, apesar dos crescentes problemas de visão, continua a marcar presença diária na enfermaria do pavilhão Jorge Anjinho.
In Académica – História de Futebol
De João Mesquita e João Santana
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