18 de março de 2015

«Vitas»: um homem bondoso na cadeira de sonho

Há um filme que se chama 'Nunca é Tarde para Amar'. No caso do José Viterbo, diria que é mais nunca é tarde para chegar à cadeira de sonho». 

As palavras são de Vítor Manuel, um dos treinadores com mais jogos no principal escalão do futebol português, atualmente ao serviço do Bravos de Maquis, do Girabola, o campeonato de Angola. 

O experiente treinador, de 62 anos, possui uma relação de amizade muito forte com o atual técnico da Académica, responsável pela notável recuperação dos estudantes neste campeonato (10 pontos conquistados nas últimas quatro partidas). Conheceram-se quando este último estava nos juniores do clube e mesmo sem terem trabalhado juntos, partilham ideias de jogo e possuem uma identidade semelhante. 

«Conheço-o bem, somos muito amigos e até temos ideias de jogo muito semelhantes. É um treinador que possui uma enorme empatia com os adeptos, é um homem da casa. Está, sem dúvida, a viver o momento mais alto da sua carreira», refere Vítor Manuel ao Maisfutebol, considerando ainda que Viterbo«tem contribuído de maneira decisiva para a recuperação da Académica no campeonato». 

«Tem feito um trabalho exemplar, fantástico. É um homem extremamente sério e que fez um trabalho de recuperação moral dos jogadores muito meritório», acrescenta. 

José Viterbo abraçado a Marinho

Apesar dos muitos elogios, Vítor Manuel considera que Viterbo «por vezes, ainda é demasiado humilde», algo que não vê necessariamente como um defeito: «Ele é um treinador que gosta mais de dar o mérito aos seus jogadores, o que é algo perfeitamente normal. Ainda assim, acho que não se deve esquecer dele próprio, porque tem uma responsabilidade enorme nestas últimas vitórias da Académica». 

E agora, muitos levantam a questão: será que há condições para que Viterbo fique no banco da Briosa para lá do final da temporada? Vítor Manuel não hesita na resposta: 

«Se eu mandasse, ele ficaria como treinador. O trabalho fala por ele, embora os responsáveis é que tenham de tomar uma decisão. Bem sei que no futebol tem de se ter os pés assentes na terra, pois se altera muito facilmente entre a euforia e a depressão. Mas, aconteça o que acontecer até ao fim da época, o Zé tem de continuar a fazer parte da estrutura profissional da Académica». 

Um treinador bondoso e fã de umas boas sandes de leitão 

Os antigos jogadores de José Viterbo também o recordam sempre com imenso carinho. O técnico foi fazendo parte de várias equipas técnicas das camadas jovens da Briosa ao longo dos últimos 25 anos, além de ter treinado emblemas da região Centro como o Fátima, Pampilhosa Sourense, Valonguense, Sanjoanense, Tocha e Eirense. 

André Portulez, antigo médio, formado na Académica e com passagens pelos campeonatos da Hungria ou Malta, relembra com carinho e estima um homem para o qual só tem elogios. 

«Defino o José Viterbo por três características: é um homem aglutinador, inteligente e apaixonado», refere o antigo jogador, que agora é empresário, depois de um final de carreira prematuro. «É alguém extraordinário. Por exemplo, se alguém ao lado dele estiver com frio, ele é capaz de tirar a camisola para dar a essa pessoa. O Vitas é uma pessoa bondosa, fantástica». 

E aí nos deparamos com uma das alcunhas pela qual alguns dos seus antigos jogadores o conhecem, mais uma prova da relação próxima que Viterbo cultiva com os seus plantéis: «A maneira de ser dele faz com que as pessoas gostem da sua personalidade. É alguém que sabe estar e que sabe o que tem de fazer para ter sucesso». 

Viterbo, ou «Vitas», no banco da Académica

Essa proximidade refletia-se até na maneira como ele se juntava aos jogadores para convívios depois dos treinos ou jogos… 

«Quando jogávamos no Valonguense, parávamos todas as sextas-feiras na Mealhada para comer sandes de leitão. Éramos um grupo de sete ou oito jogadores e o Vitas juntava-se a nós porque gostava muito desse convívio e dessa união. Era alguém sempre bem-vindo no seio dos jogadores». 

Portulez, que foi ainda treinado por José Viterbo no Tocha, conta que sempre viu o treinador atuar «da forma adequada», tendo em conta as vicissitudes do trabalho em divisões inferiores. 

«Numa terceira divisão tudo é diferente. Há jogadores que falharam em escalões principais e que estão ali a tentar recuperar na carreira, há outros que trabalham e jogam… Ele conseguia perceber essa realidade e a forma de atuação sempre foi a mais correta», recorda André Portulez, lembrando ainda outras histórias curiosas, que refletem o rigor e a paixão pelo jogo de Viterbo. 

«Lembro-me de estarmos no balneário antes de um jogo com o Cesarense e de ele ter trazido relatórios do adversário. Perguntámos logo: 'Oh mister, mas vamos jogar contra o Barcelona ou quê?'. Era sempre assim. No Valonguense, defrontámos o Ginásio Figueirense, que tinha um jogador que se chamava Faneca. Antes do jogo, falava dele como se já o conhecesse desde que nasceu», acrescenta, de forma humorada, o antigo pupilo de Viterbo, gabando o método de trabalho do timoneiro da Académica. 

Até à cama vai buscar os jogadores 

Também Vítor Vinha, lateral-esquerdo formado na Briosa e atualmente no Beira-Mar, foi treinado por Viterbo nos juniores e na equipa B da formação conimbricense. O jogador, de 28 anos, recorda um homem com «muita paixão pelo jogo e que consegue transmitir essa paixão aos seus jogadores». 

«É alguém que sabe ser amigo e ao mesmo tempo exigente com os jogadores. Nós gostamos disso. A veracidade na paixão e a exigência para vencer», refere o antigo atleta de Académica ou Gil Vicente, relembrando um episódio curioso:«Uma vez chegou a ir buscar um jogador à cama, o Xano, para vir treinar». 

Para quem não se recorda, Xano era um dos jogadores mais talentosos da Briosa no início do século, embora tivesse incorrido nalguns casos de indisciplina. Esteve, inclusivamente, preso

«O Viterbo acabou por treinar uma geração de jogadores nos juniores da Briosa e depois na equipa B que chegariam à equipa principal, entre os quais esse Xano, o Zé Castro ou o Nuno Piloto. Eu pertenço a outra geração mas ainda cheguei a ser chamado à equipa B», refere Vinha, recordando alguns dos nomes que Viterbo ajudou a lançar para a alta roda. 

Tanto Portulez como Vinha concordam em como existe atualmente uma espécie de «efeito-Viterbo» na Académica. 

«A Académica precisava disto. Era importante mexer com as emoções. Não foi por acaso que o estádio esteve mais bem composto do que é costume no jogo com o Nacional», refere André Portulez, considerando Viterbo um «doente pela Académica, no bom sentido». O antigo pupilo aposta que «a vontade é tanta que ele nem sequer dá folgas a si mesmo, só aos jogadores». 

Vítor Vinha afina pela mesma nota: «É um homem que ama a Académica. Conhece bem a cidade, conhece bem os adeptos e conhece melhor do que ninguém a mística do clube. Merece o momento que está a viver pois já deu muito à Académica». Uma definição perfeita do que é um homem na sua«cadeira de sonho»…

in maisfutebol 

Sem comentários:

Enviar um comentário