22 de março de 2010

Bocas: Emídio Rafael (Académica): «Ainda poderia estar no Sporting»

O destino pode ter formas caprichosas de se cumprir. Numa perspectiva optimista, às vezes, basta estar no sítio certo no momento exacto mas há também o reverso da medalha, ou seja, estar no local errado numa altura inoportuna. Com Emídio Rafael aconteceu a segunda parte. O lateral-esquerdo da Académica nasceu para o futebol em Alvalade e cumpriu as várias etapas de formação lado a lado com alguns dos mais conhecidos jogadores da actualidade, casos de Miguel Veloso, Moutinho, Nani ou Djaló.

O auge dessa geração de 1986 aconteceu na época de 2004/05, quando, sob o comando de Paulo Bento, em ano de estreia como treinador, os leões voltaram a conquistar o título de campeões nacionais de juniores, nove anos depois da última vitória na prova. Foi também nessa altura que começou o azar para o jovem lateral-esquerdo, até então primeira opção para o lugar. «Fiz uma rotura dos ligamentos cruzado, fui operado, e, já depois de falhar os últimos jogos da temporada, passei os seis meses da seguinte em recuperação», desvenda ao
Maisfutebol.


Seguiu-se um primeiro empréstimo, em Janeiro, ao Casa Pia e outro, na época seguinte, ao Real Massamá, sempre pela II Divisão B. Depois, com o final do contrato, Emídio Rafael preferiu tomar o seu destino em mãos e rumou ao Algarve para dois anos ao serviço do Portimonense na Liga de Honra. Numa carreira feita de pequenos passos mas sempre a subir, o último só poderia ser o salto para a Liga principal, proporcionado pela Académica, no início da época.

«Nem todos os jogadores dos juniores podem passar para o plantel principal», reconhece o jovem defesa e, afinal, também há muitos nomes dessa fornada que acabaram por ir parar aos escalões inferiores e ainda aguardaram por uma oportunidade, que poderá nunca chegar, para regressar a um primeiro plano competitivo.


Mas aquilo que Emídio Rafael não esconde, quando olha para a composição do actual plantel do Sporting, é que, se as circunstâncias tivessem sido diferentes, ainda poderia estar de leão ao peito: «Fico com essa sensação, sem dúvida. Tanto eu como as pessoas que me estão mais próximas e conhecem o meu valor pensam assim. Como em tudo na vida, também é preciso sorte nestas situações.» 

 
Preparado para chegar à Selecção
É atrás da sua sorte que o lateral-esquerdo corre agora em Coimbra, onde garante sentir-se bem e procura evoluir cada mais. «Está a correr melhor do que eu pensava. Tenho sido opção no clube, voltei às selecções [sub-23]. Tem sido uma boa época tanto para mim como para a equipa e, claro está, quando o colectivo está bem, há mais hipóteses de sobressaírem as individualidades. Não teria chegado à selecção se não fosse a ajuda de todos no clube», reconhece.

Pela posição que ocupa e o impacto causado na sua primeira época na Liga, há quem acredite nas possibilidades de Emídio Rafael ter uma palavra a dizer num futuro não muito longínquo em termos de alternativa para a lateral-esquerda da principal equipa das quinas. O jogador não o admite directamente mais deixa clara a ambição: «Aquilo que penso sobre isso, fica para mim mas tenho a ambição de chegar o mais longe possível em tudo. O futuro o dirá. Não posso dizer que não trabalho diariamente para isso. Se chegar o mais longe possível para mim for isso, então estou mais do que preparado para lá chegar.»

O defesa dos estudantes rejeita, ainda assim, que o facto de não evoluir num dos grandes possa condicionar-lhe as hipóteses de chegar ao AA. «Há o caso do Rúben Micael, que beneficiou com a transferência para o F.C. Porto, mas ainda agora nos Sub-23 a Académica teve três jogadores, o Rio Ave dois... O próprio seleccionador referiu-se a essa equipa como a base para uma próxima competição da selecção principal, por isso não vejo qualquer limitação.» 
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O dia em que Emídio Rafael conheceu Roberto Carlos

17 de Abril de 2002. Emídio Rafael tinha 16 anos, era juvenil do Sporting, e viveu um dia memorável no velho Estádio José de Alvalade, em plena fase de preparação para o Mundial da Coreia/Japão. Não era só o facto de ter tido o privilégio de ver o Brasil jogar ao vivo, ao nível da relva - um prémio dos responsáveis pela formação leonina -, foi mais do que isso: conheceu pessoalmente Roberto Carlos, aquele que lhe servia de inspiração e modelo como lateral-esquerdo. No final, empate a uma bola, depois de uma exibição notável de Ricardo entre os postes, que logo ali terá impressionado Scolari, ainda longe de saber que trocaria de banco volvidos alguns meses.

«No Sporting, sempre nos incentivaram a ter uma referência na nossa posição e a minha era o Roberto Carlos. Acompanhei-o muito no Real Madrid, procurava ver como jogava e tentava fazer o mesmo. Foi fantástico ter estado perto dele e cumprimentá-lo. Aquela era uma equipa fabulosa, que foi depois campeã do Mundo, com Ronaldo, Ronaldinho¿ um desfile de craques», recorda o lateral da Briosa, ainda de olhos a brilhar. 

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