20 de outubro de 2013

2013/2014 - Taça de Portugal - Belenenses 2 - Académica 2 (2-4 nas grandes penalidades)

Crónica 

O único jogo da terceira eliminatória da Taça de Portugal entre equipas da Liga precisou de 120 minutos e oito grandes penalidades de desempate para ficar decidido. A história terminou muito diferente do que começou entre Académica e Belenenses. Ao fim da primeira parte era tudo azul, depois virou. Grande alma da Académica, que segue em frente na prova que lhe é tão querida.

Este é um clássico do futebol português, mas curiosamente as duas equipas não se defrontavam para a Taça de Portugal há quase 40 anos. Reencontraram-se numa tarde de outono no Restelo, com demasiado azul das cadeiras à vista nas bancadas. Estavam apenas algumas centenas de espectadores.

Ambas as equipas chegavam aqui com algumas limitações, e chegavam em momentos diferentes. O Belenenses a recuperar ânimo depois do mau arranque neste regresso à Liga e depois de viver o momento difícil que foi a doença e a paragem forçada de Van der Gaag, que teve de abandonar o banco. A Académica sem ganhar há três jogos para a Liga, mas com a motivação de a única vitória que somou para o campeonato ter sido precisamente frente ao Belenenses. O problema é que não voltou a ganhar desde então.

Falta apresentar o relvado do Restelo. Está em muito mau estado, com peladas e muita areia, e convém dizê-lo porque condicionou muito o jogo. Nestas condições, entrou melhor o Belenenses. Os homens do Restelo pegaram na bola e foram eles que tomaram conta dela durante quase toda a primeira parte, perante uma Académica apática e incapaz de sair a jogar.

Se era a partir das alas, com Marinho e Diogo Valente, que Sérgio Conceição esperava conseguir ganhar desequílibrios, não se confirmou. O relvado terá culpas, é por ali que está mais difícil jogar, mas isso não explica tudo. O Belenenses conseguiu fazê-lo, apesar de tudo, em conbinações frequentes entre Arsénio, Fredy, Miguel Rosa e Sturgeon, nos últimos tempos adaptado a ponta de lança.

Fredy deu um primeiro aviso logo aos seis minutos, quando fez a bola passar perto do poste. Mas houve mais, livres batidos por Miguel Rosa, um cabeceamento de Diakité e outro de Sturgeon. E, aos 39 minutos, o golo. Fredy aproveita uma perda de bola de Marinho e remata forte. Era mais que merecido o golo do Belenenses, que até podia ter feito mais. Não fez, pagou por isso.

É que, mesmo a despedir-se da primeira parte, a Académica deixou um aviso. Esteve muito perto de marcar, num lance de insistência em que a defesa do Belenenses acaba por afastar o remate de Ogu.

Talvez tenha sido um sinal. O facto é que foi tudo diferente no segundo tempo. Sérgio Conceição tirou Ogu e o capitão Marinho, meteu Cleyton e Abdi, a Académica trouxe do balneário uma atitude totalmente nova e virou o jogo.
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Com a Académica a crescer, o Belenenses encolheu-se. E a Briosa chegou ao golo do empate aos 50m. Foi Diakité quem acabou por introduzir a bola na sua baliza, depois de um cruzamento de Djavan e de ela tabelar em Abdi e Rafael Oliveira.

Mas havia mais. Com o Belenenses a ver jogar, Fernando Alexandre consumou a reviravolta aos 62m, num grande remate de longe. No Belenenses, Marco Paulo mexeu, tirou Sturgeon e fez entrar Tiago Silva. E o Belenenses chegou ao 2-2 de penálti, depois de o árbitro assinalar falta de Aníbal Capela sobr João Afonso. Bateu Fredy.

À medida que o Belenenses reagrupava fileiras, o jogo entrava num ritmo louco. Ainda houve um segundo penálti, a penalizar falta de João Afonso sobre Cleyton. Mas o jogador da Académica permitiu a defesa de Matt Jones.

Nada feito. As duas equipas de Liga frente a frente nesta ronda de Taça não iam ficar por ali. Foi preciso jogar um prolongamento. Que baixou, e muito, o ritmo. Sem história, à espera das grandes penalidades.

E os penáltis sorriram à Académica e deixaram o Belenenses a amaldiçoar os postes. Primeiro João Afonso, a seguir Diawara, remataram ao ferro. 2-4 nos penáltis, a festa segue para Coimbra.

Destaques

Figura: Abdi

Duas apostas ganhas, os jogadores que Sérgio Conceição fez entrar logo no início da segunda parte para tentar fazer alguma coisa à inoperância da Académica na primeira parte. Cleyton foi muito mais móvel e capaz de desequilibrar que Ogu, que não se adaptou à posição. Na ala, Abdi ainda fez mais a diferença. O extremo somali que Conceição já tinha treinado no Olhanense e trouxe para a Académica complicou muito a vida ao setor direito do Belenenses, esteve nos dois golos da Briosa. Retribuiu, e bem, a confiança que o treinador tem nele.

Momento

62 minutos. Jogada na esquerda de Djavan e Abdi, Fernando Alexandre aparece ao centro e manda uma bomba para dentro da baliza de Ricardo. 2-1, a Académica consumava a reviravolta no Restelo. Aconteceu muito depois disso, mas aquele remate de fúria do experiente médio simbolizou em definitivo a mudança de sentido do jogo.

Negativo: o relvado

O relvado do Belenenses está mau, tão mau que condiciona de facto a forma como se joga. Enormes peladas nas alas, areia que se farta, uma combinação que perturba a circulação da bola, a marcação de livres e, claro, a velocidade e qualidade de jogo. A equipa anda a treinar noutros locais para poupar o tapete do Restelo, mas não chega para resolver.

Outros destaques

Djavan

Na primeira parte de apatia da Académia o lateral-esquerdo tinha sido dos poucos a deixar sinais positivos. E na segunda, depois das alterações introduzidas por Sérgio Conceição, começaram nos seus pés as jogadas dos dois golos da Académica. Rápido a subir, móvel e com boa visão de jogo, o lateral cedido pelo Corinthians Alagoano acabou expulso por acumulação de amarelos, mas foi uma das referências da Briosa esta tarde.

Fredy

Ao centro no trio de apoio a Sturgeon, feito ponta de lança, Fredy foi o jóquer na boa primeira parte da equipa do Restelo. Nas combinações entre Miguel Rosa, Arsénio e Sturgeon, era ele quem aparecia muitas vezes a tentar finalizar e arrumar o assunto. Tentou várias vezes e conseguiu mesmo, num belo remate a aproveitar uma perda de bola de Marinho. Apagou-se na segunda parte, com o resto da equipa, mas ainda bisou, de penalty, e foi um dos mais inconformados.

Miguel Rosa

É a grande referência desta equipa do Belenenses. Está em todo o lado, é o homem que arrasta a defesa adversária, ganha faltas, toma conta das bolas paradas. Fez tudo isso hoje, mas ainda assim uns furos abaixo do que tem sido a sua bitola. E a equipa precisava de mais Miguel Rosa quando as coisas se complicaram.

Opiniões 

Sérgio Conceição, treinador da Académica, depois do apuramento na Taça de Portugal frente ao Belenenses, nas grandes penalidades (2-2 ap e 2-4 gp)

«Fizemos uma primeira parte má, não entrámos muito bem no jogo, não pusemos em campo o que tínhamos pensado. Ao intervalo retificámos algumas coisas e fizemos uma segunda parte fantástica, com grande atitude e ambição, e isso é fundamental no futebol.»

«Fizemos uma segunda parte de acordo, na minha opinião, com aquilo que é a qualidade da Académica.»

«Era importante passar esta eliminatória, em termos motivacionais é sempre bom. Nomeadamente com uma equipa como o Belenenses, que não perdia há três jogos e estava moralizado.»

«Penso que fizemos uma segunda parte fantástica, fomos grandes em todos os sentidos.»

«Não pensem que é pela minha arrogância, vocês viram o penálti que sofremos hoje, não é penálti em lado nenhum do mundo. Temos cinco penáltis sofridos e nenhum a nosso favor. Hoje foi o primeiro. Aconteceram várias coisas em termos do que foi a arbitragem, não gostei muito.»

«Dar os parabéns aos meus jogadores, isso é que foi importante. Dar os parabéns à Mancha Negra, que esteve aqui e nos apoiou. A acreditarem como hoje, devemos fazer um campeonato de acordo com o que esperamos. Um campeonato tranquilo e ir o mais longe possível nas outras duas competições em que estamos.

(O que disse aos jogadores ao intervalo?) «Não vou revelar aqui o que disse aos jogadores. Com certeza beijinhos não dei, não é do meu feitio. Foi importante o intervalo para corrigir. Mudámos dois jogadores também ao intervalo. Penso que a mensagem mais importante foi ir à procura da vitória para dedicar aos jogadores que saíram ao intervalo. Esse espírito de grupo foi fundamental.»

(Que se passou com os adeptos do Belenenses durante o jogo?) «Queria dar uma palavra sobre isso. Os meus filhos jogaram no Belenenses, tenho um carinho muito grande pelo Belenenses, pelo seu público. Num lance no campo em que não concordei com o que o árbitro fez fiz um gesto para o árbitro. Se fosse algo com o público eu diria. Não foi. Foi para o árbitro. Eles pensaram que era para eles. Nunca o faria.»

Marco Paulo, treinador do Belenenses, depois da eliminação da Taça de Portugal frente à Académica (2-2, 2-4 nas grandes penalidades):

«Uma primeira parte muito bem conseguida da nossa parte, com o jogo completamente controlado, dominámos a equipa da Académica, criámos algumas oportunidades, fizemos um golo.»

«Na segunda parte a Académica entrou melhor e virou o resultado. Soubemos reagir, a equipa voltou a ter boa atitude e bom comportamento. Fizemos o 2-2, tivemos oportunidade de voltar a liderar o resultado. Fomos a equipa que esteve mais perto de ganhar. Não muito bem jogado, mas com vontade.»

«Nos penáltis já sabemos como é, ganhou a Académica.»

(Este resultado pode comprometer a recuperação que a equipa estava a fazer?) «A análise que eu fiz revela que durante a maior parte do tempo fomos superiores e fomos a equipa que temos sido. Estou confiante para o futuro»

(Belenenses já tinha perdido com a Académica para a Liga, agora isto, porquê dois maus resultados com a Académica? «Este não foi uma derrota, foi um empate. Mas pronto, a Académica é uma equipa que não dá muito espaço, tem um bloco baixo, acabaram por ser mais felizes estão de parabéns.»

(Miguel Rosa saiu por motivos físicos?) «Sim, já estava cansado naquela fase.»

Penáltis

AAC: Golo de Cleyton
BEL: Golo de Filipe Ferreira
AAC: Golo de Fernando Alexandre
BEL: Golo de Fredy
AAC: Golo de Marcelo Gioano
BEL: Falha João Afonso
AAC: Golo de Abdi
BEL: Falha Diawara

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